Eu Quero Ter Um Milhão de Amigos?
Quando menina, morando no campo, ouvia a música do "rei" com aquela famosa frase: "Quero ter um milhão de amigos e bem mais forte poder cantar". Na minha cabeça de criança, eu me perguntava: “Como assim, um milhão de amigos? Milhão parecia algo enorme, além da minha compreensão.” Naquele tempo, milhões eram apenas números que não significavam muito. O que eu conhecia mesmo era o milharal onde brincávamos, e eu adorava trançar os cabelos das espigas, transformando o simples em diversão. A vida era simples e muito distante do que vivo hoje.
Meus pais eram administradores da fazenda e nós morávamos em uma casa enorme, conhecida como a sede da propriedade. Era uma casa construída especialmente para o administrador e sua família. Naquela época, a inocência era nossa base e a simplicidade fazia morada.
Lembro-me claramente de cada detalhe daquela casa, do jeep amarelo que meu pai dirigia, da escola rural, das festas na igreja e até da venda do senhor João. Mas, curiosamente, não me recordo das colegas da escola ou de crianças que viviam por lá. Talvez porque, quando já tinha mais de dez anos e morávamos em outra propriedade, minhas memórias começaram a se formar de maneira mais vívida. A nova casa era mais simples, rodeada por um lindo cafezal. Havia também uma imponente mangueira próxima e um jardim na frente. Perto dali, existia uma colônia japonesa onde havia crianças com quem eu e minha irmã podíamos brincar, autorizadas pelos meus pais.
Foi nessa propriedade que enfrentei uma experiência nova e assustadora: minha primeira menstruação. Eu tinha pouco mais de onze anos e não fazia ideia do que estava acontecendo. Falei com minha mãe, que disse: "Isso é assim mesmo", entregando-me toalhinhas higiênicas acompanhadas da frase: "Use isto," depois lave e passe, para o próximo mês!!!
Talvez por isso, ou por outros motivos, nunca fui de ter muitos amigos. Minha mãe foi, por muito tempo, minha melhor amiga. Mais tarde, minha irmã assumiu esse papel, junto com algumas poucas amigas que fiz ao longo da vida. Nunca fui muito popular. Essa realidade mudou um pouco quando morei no Ceará, aos quinze anos, onde fiz mais amizades e comecei a me interessar pelos meninos. Namorei vários – Neto, Valney, Jeorge, Marcos Antônio, Bráulio, Marquinhos, Leo, entre outros – e até fiquei noiva de um Júnior, no dia do meu aniversário de quinze anos. Mas naquela época, namorar era diferente do que é hoje. Também fiz bons amigos: Deodoro, Ivan, Delzimar, Raimundo, Luiz e outros. Aproveitávamos nossa juventude sem pressa.
Quanto às amigas dessa fase, algumas são inesquecíveis: Maria do Socorro, Lucineide, Eliana, Ondina, Carmem, Aparecida, Rosário, Sueli, Ayla, Olívia... muitas deixaram marcas, mesmo que eu não lembre mais seus nomes.
De volta ao Paraná, residindo novamente no campo e estudando em Rondon, fiz novos amigos durante o técnico em contabilidade. Alguns se perderam ao longo do tempo: Derry, Renata, Sandra, Mara, Paulinho, Serginho, Luizinho, Suely, Bete, Vidalzinho, Margareth, Márcia, Luciana, Nauro, Jamel, Emerson, Inês...
Alguns vieram para Curitiba e eu, inclusive, os ajudei a realizar essa transição. Naquela época, sair do interior e ir para a capital era um desafio. Em 1988, tive que insistir muito com meus pais para me deixarem vir. Foi uma época difícil, mas cheia de oportunidades e descobertas.
Com o tempo, aprendi a selecionar melhor as amizades, embora ainda tenha quebrado a cara várias vezes – e continuo quebrando. Isso fez meu filtro de amizades se tornar mais exigente. Hoje, já não tenho meus pais e pouco convivo com meus irmãos. Sou caseira e gosto muito da minha própria companhia. Minhas pets são minha paixão.
Tudo isso me faz acreditar que minha "Saúde Social" está em ótimo estado. Daqui a três anos, estarei entrando na fase de idosa, e não sei exatamente como será, mas tenho certeza de que serei cada vez mais seletiva. Não porque me considero melhor do que ninguém, mas porque sei que não sou pior. Por isso, mereço e busco a felicidade em qualquer momento que eu viva.
Atualmente, agradeço mais do que peço a Deus. Mas se há algo que desejo profundamente é que, quando Ele decidir me levar, faça isso de maneira suave, preferencialmente enquanto eu estiver dormindo.
Por enquanto, sigo me organizando, melhorando aos poucos, e sinto que estou no caminho certo.
Volto na segunda-feira com mais capítulos da minha jornada até aqui. Fiquem bem!
Até,
Cindy Ferreira | viveReal