Espiritualidade e Saúde Mental: Uma Relação que dá Certo
É crescente o número de pesquisas que se dedicam a investigar a relação positiva entre saúde mental e espiritualidade.
Vamos entender espiritualidade aqui como relacionada ao significado da vida e à busca pelas razões da nossa existência. E é visível o quanto a humanidade caminha em busca de um sentido. Cada um de nós tem uma jornada em busca de si mesmo, seja ela mais ou menos consciente e deliberada.
Viver não é uma tarefa fácil e, diante das adversidades e desafios da vida, muitas vezes somos acometidos por medos, complexos, síndromes, transtornos e distúrbios psíquicos que, se não analisados e tratados em todas as suas dimensões, podem dar lugar a dificuldades e sofrimentos ainda maiores.
Muitas vezes, apenas um comprimido não é suficiente para resolver complexos conflitos. Por isso, olhar para o ser humano, seu funcionamento e seus sintomas de um ponto de vista integral e sistêmico é fundamental.
Sabe-se que a Psicologia (e a Psiquiatria) utiliza o método científico de compreensão dos fenômenos, porém não despreza a natureza física nem tampouco espiritual do ser humano. O preconceito de que assuntos relacionados à fé não podem ser estudados no âmbito científico está cada vez mais sendo derrubado pelas evidências de que a espiritualidade, quando bem integrada e vivida de forma saudável, contribui positivamente para a saúde mental da pessoa, auxiliando a dar significado a aspectos psíquicos a princípio desordenados e diminuindo o seu sofrimento.
Podemos entender que a psicologia e a espiritualidade, mesmo tendo diferenças fundamentais e utilizando-se de conceitos diferentes, buscam auxiliar o indivíduo num processo semelhante de construção, percepção ou criação de significado não sendo, portanto, incompatíveis.
No âmbito da terapia cognitivo comportamental, por exemplo, já existem ensaios clínicos randomizados (um dos métodos mais confiáveis de pesquisa), que comprovam que protocolos de terapia adaptados às crenças religiosas e espirituais dos pacientes são tão ou mais eficazes do que os protocolos padrões, principalmente em casos de depressão e ansiedade. Há inclusive muitos pacientes que desejam que os profissionais abordem isso por considerarem a dimensão espiritual algo importante em suas vidas.
Outros estudos mostraram que pacientes depressivos fisicamente debilitados tendem a apresentar remissão mais rápida da doença quando possuem uma religiosidade forte. Não é por acaso que a depressão é o tema mais estudado, dentre as desordens psiquiátricas, com relação ao aspecto religioso, seguido pela ansiedade.
Portanto, ambos os conhecimentos coexistem e podem dialogar entre si, buscando compreender de que modo o aspecto espiritual impacta nas questões psicológicas e vice-versa.
Também não é por acaso que, desde 1988, a Organização Mundial de Saúde incluiu a dimensão espiritual no conceito multidimensional de saúde, indicando a necessidade de os profissionais da área considerarem este aspecto em suas práticas. Isto porque a espiritualidade oferece recursos valiosos para o enfrentamento de situações estressantes inevitáveis na vida, auxiliando na manutenção de uma boa saúde mental.
Quando as pessoas passam por situações de luto ou por alguma doença, por exemplo, muitas conseguem encontrar um sentido para essas experiências e lidar de uma forma melhor por meio da espiritualidade e da religiosidade, que atua como um recurso de enfrentamento e adaptação.
É geralmente diante dessas situações que nos causam sofrimento e nos colocam diante da experiência do vazio existencial e da posição de desamparo, que surge a necessidade de encontrar um sentido para a vida. A espiritualidade, então, pode nos ajudar na busca por respostas às questões existenciais mais profundas.
É raro alguém que nunca tenha se perguntado ao menos uma vez, de onde vem, por que está aqui, qual a razão da sua existência. Espiritualizar-se não é apenas pertencer a um credo religioso. Requer envolvimento num processo de reconhecimento e percepção de si mesmo.
É igualmente raro alguém que não deseje uma existência sem conflitos, crises depressivas, dificuldades de relacionamento ou qualquer espécie de mal estar ou desconforto. E existem vários caminhos oferecidos para quem busca isso, como por exemplo filosofias, religiões, seitas…
Porém, independentemente do caminho escolhido, ninguém poderá prescindir de entrar em contato com sua própria individualidade, com seus próprios limites ou com as dificuldades inerentes ao processo evolutivo. Esse confronto, apesar de contar com o auxílio de vários recursos, não pode ser transferido a ninguém, nem mesmo à Deus. Porque ninguém pode crescer por nós e passar pelo processo no nosso lugar. Por isso nessa caminhada é preciso ter coragem, disciplina e a certeza de que essa missão é pessoal e intransferível.
Agora me conta, você tem alguma crença espiritual/religiosa? Como você se relaciona com a sua espiritualidade e como você percebe os benefícios dela na sua saúde emocional?
Uma semana abençoada e até a próxima terça!
Paula Fischer
Psicóloga CRP 08-08899
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